quarta-feira, 16 de março de 2011

Modelo Cientifico.


Coisas consideradas inatingíveis pela mente humana são questionadas desde a antiga filosofia grega e permanecem sendo até hoje. O debate iniciado desde o princípio da história do conhecimento, quando o fazer ciência era simultâneo ao fazer filosófico, se estabeleceu como uma questão básica, tanto na filosofia como na ciência:

É possível o acesso ao real?

Ora, mesmo quando o método de investigação silogístico grego foi substituído pelo método científico experimental característico da idade moderna, jamais a ciência chegou à “verdade”, concebida como o conhecimento definitivo e irrefutável. Justamente ao contrário, no final do século XIX, quando vários cientistas propunham o “fim da história” para o conhecimento humano, em que o universo se encontrava totalmente explicado pela mecânica newtoniana, o avanço científico tomou rumos inesperados.

Naquela época, uma parte da comunidade científica propugnava, sob um ponto de vista determinista, que a ciência apreendia o real e que soba a condição de ter os dados empíricos das condições iniciais de determinado fenômeno, a sua previsibilidade era absoluta, ou seja, pensava-se que a ciência trabalhava com a própria realidade.

O avanço científico ocorrido no início do século XX desmontou definitivamente o sonho determinístico do acesso ao real e a ciência teve que admitir que na suas constantes investidas de compreensão da natureza, somente consegue construir Modelos aproximativos que servem de ponte entre o real e a limitada capacidade humana de apreendê-lo

Exemplos de Modelos Científicos:
- Modelo do átomo: o clássico desenho do átomo que se vê nos livros escolares é um modelo científico. Ele, mesmo sendo a representação do átomo real, não é a verdade do átomo, porque inclusive este modelo já foi revisto várias vezes e continuará sendo;

- Modelo da molécula de DNA: é uma representação do real que levou anos para ter o aspecto que conhecemos hoje, mas não há nenhuma certeza de que não possa ser mudado;

- Modelos matemáticos climáticos: diferentemente dos modelos deterministas da física Newtoniana, em que bastava se conhecer as condições iniciais de um sistema para se prever posições futuras, o clima se comporta de maneira não linear, caótica. Assim, pequenas alterações nas condições iniciais podem provocar resultados imprevisíveis. Por isso foram concebidos modelos climáticos probabilísticos, que operam com faixas de janelas de possibilidades. Assim, as previsões obtidas por estes modelos são apresentadas através de resultados estatísticos, dentro de margens de erro/acerto;

- Modelo computacional: todos os computadores do mundo seguem o a lógica de funcionamento de um modelo de computador conceitual criado antes que fosse inventado o primeiro computador eletrônico. Ele descreve e sistematiza os passos avantes e retrógrados que uma cabeça leitora perfaz para ler uma fita onde estão armazenados dados binários ZEROS E UNS. Até hoje, nenhum computador do mundo conseguiu romper o paradigma imposto pelo modelo computacional imaginado pelo matemático inglês Alan Turing. A ciência antevê que este modelo possa ser superado pelos novos paradigmas da computação quântica.

- Modelo semiótico do aprendizado: assim como no modelo computacional conceitual em que a informação é reduzida a ZEROS E UNS, o modelo da aprendizagem humana reduz o conhecimento a noemas, ou seja núcleos básicos constituintes dos conceitos. O conceito “cavalo” não é armazenado apenas como imagem, ele é informação léxica e também é figura que pode ser evocada por inúmeras imagens que lembram cavalos, mas também pode ser evocado por sons, cheiros, tato, conceitos associados, etc. Apesar de o modelo semiótico descrever a formação do conceito, ele não dá conta do fenômeno total, da coisa em si, tanto que até hoje as pesquisas na área de Inteligência Artificial continuam engatinhando sob o engessamento do Modelo de computador conceitual binário proposto por Turing.

A derrota do determinismo, iluminismo e mecanicismo sob a inexorável transitoriedade do conhecimento humano.
Todo o conhecimento humano é formado de modelos de aproximação que sintetizam a observação humana sobre os fenômenos da natureza, porém sempre distante do real, das coisas em si mesmas, que continuam escapando da apreensão total. A concepção da ininteligibilidade do real pela mente humana derruba as certezas adquiridas nos primórdios da história do conhecimento moderno, construídas através do determinismo, iluminismo e do mecanicismo defendido por toda uma geração de Filósofos e cientistas iluministas, tais como René Descartes e Francis Bacon, que desembocou no dogmatismo preconizado pelo positivismo científico no século XIX.

Conclusão:
Só existem modelos científicos porque o conhecimento científico e filosófico se constitui de aproximações do real e não na apreensão do próprio real. No momento em que a mente humana pudesse apreender a realidade, não precisaria mais criar modelos conceituais precários para compreender o mundo.