quinta-feira, 3 de março de 2011

Câmara quer legalizar hortas urbanas


A Câmara Municipal de Lisboa quer legalizar todas as hortas da cidade, estando actualmente a reordenar e a criar infra-estruturas em cerca de 40 hectares de hortas espalhadas pela capital, num investimento no valor total de três milhões de euros.

O projecto arrancou no ano passado e há presentemente seis áreas de hortas que a autarquia vai remodelar, criando as infra-estruturas necessárias, como caminhos, abastecimento de água ou iluminação, antes de abrir concurso para a atribuição do espaço a quem o quiser cultivar.

O vereador José Sá Fernandes afirma que os projectos estão em diferentes fases, mas espera que até ao final de 2011 “já se possa ver muita coisa feita”.

Em cima da mesa, para avançar está o “grande parque hortícola de Chelas”, com 14 hectares, um projecto de dois terrenos de hortas e flores em Telheiras, um parque hortícola no Vale do Rio Seco, na Ajuda, outro na Ameixoeira e a remodelação das hortas na Quinta da Granja e no Jardim da Graça.

Paralelamente, revelou o vereador, está a ser finalizado “uma espécie de regulamento” que vai definir em que moldes se fará o acesso às várias hortas.

“Em termos ecológicos e de biodiversidade é uma boa medida. Tem uma componente social importante e em termos de manutenção é uma boa aposta porque depois são as pessoas que mantêm estes terrenos”, explicou Sá Fernandes à Lusa, acrescentando que quando o trabalho estiver todo feito, as hortas “vão ficar ordenadas e bonitas”.

O vereador explicou ainda que os espaços em causa não serão apenas zonas hortícolas, mas também espaços públicos de lazer.
“É essencial haver caminhos, para as pessoas poderem passear dum lado para o outro, água e em alguns casos iluminação. E depois é preciso equipamentos, como as casotas para as alfaias, as vedações. No fundo é dinheiro para reorganização”, adiantou José Sá Fernandes.

No Bairro da Graça, por exemplo, há um terreno que é utilizado há mais de 10 anos como horta comunitária, onde colabora o Grupo de Acção e Intervenção Ambiental. Para muitos idosos, esta é a única forma de terem acesso a legumes frescos em tempos de crise. No entanto, há moradores que preferiam que o espaço fosse transformado em parque de estacionamento, devido à carência de lugares, e a questão tem originado atritos no bairro.

Para o arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, este é um projecto que se justifica porque, com a extensão que as cidades começam a ter, surge naturalmente a agricultura urbana.
Na opinião de Ribeiro Telles, o planeamento de uma cidade não pode ser feito “sem pensar”. Paralelamente, “o abastecimento dessa aglomeração de pessoas e esse abastecimento não pode estar dependente de uma política nacional exclusivamente ou até de uma política europeia”, mas tem de estar interrelacionado com o plano da cidade”, sublinhou.

Ribeiro Telles defende mesmo que Lisboa precisa de corredores de sustentabilidade onde haja produção de carne, leite ou hortícolas.